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Friday, September 07, 2007

Cuba em Camerata Brasileira #02

Vai aqui um breve relato de como foi nossa viagem à Cuba para o XI Cuba Disco, tanto no que diz respeito a música quanto a experiência de conhecer uma sociedade totalmente diferente da nossa, mas que ao mesmo tempo tem pessoas que nos fazem sentir em casa.

Estivemos em Havana entre os dias 17/05 e 30/05, com programação para quatro shows, conforme o post anterior. Desde o primeiro, realizado na Sala Ché Guevara da Casa de las Americas, nossa empolgação foi enorme pois com a sala lotada, recebemos antes, durante e depois do concerto, com muito entusiasmo do público, seus cumprimentos e elogios. Uma sensação fantástica por ser nossa estréia naquele país, com nossa música inusitada aos ouvidos da maioria.
Além dos demais concertos - inclusive um na mais famosa casa de jazz cubana, La Zorra y el Cuervo - fomos convidados pelo Ministério da Cultura de Cuba para um concerto especial que foi realizado no pátio do prédio que sedia o Ministério da Cultura Cubano, onde fomos recebidos e acolhidos por autoridades e por muitos amigos que já havíamos feito até então.

Além do contato direto com músicos a todo momento, na rua, no famoso Malecón, aquele calçadão de quilômetros que nos brindou o tempo todo com uma visão linda daquele misto entre o Golfo do México e o Oceano Atlântico, onde conhecemos umas gurias incríveis que simplesmente pararam enquanto tocávamos com outro músico cubano numa das primeiras noites que estávamos em Havana, e começaram a tocar, violão, saxofone, cantar nos dando um pouco de sua música e sua simpatia, comum ao povo cubano. Conhecemos músicos do quilate do jovem trumpetista Yasek Manzano, além do seu quinteto formado por músicos também muito jovens, estudiosos e talentosos com os quais pudemos dar uma canja durante uma jam no Gato Muerto - outra importante casa de jazz de Havana - e que mais tarde, nos retribuiu com um solo inspiradíssimo em Tumaracá durante o concerto do La Pérgola, para o Ministério da Cultura de Cuba, subindo ao palco de surpresa e deixando todos simplesmente encantados. Além deste encontro que resultou numa grande amizade e num encontro em sua casa para uma grande jam que durou horas e horas, onde tocamos, jazz, música cubana, brasileira, conversamos sobre nossas experiências e perspectivas e ratificamos esse amizade. Foram tantos encontros, gratos encontros, que este texto poderia se extender por muitas e muitas páginas desse blog, lembranças e imagens que não sairão mais de nossa mente e creio, da deles também - afinal foram 17GB de imagens, fotos e filmes deste episódio Camerístico! - Nomes como Sexto Sentido, Grupo Vocal Sampling, Moncada, a Camerata Romeu dirigida por Zenaida Romeu, formada somente por mulheres, na verdade meninas com média de 22 ou 23 anos, tocando de uma forma que nos deixou embasbacados por sua qualidade técnica e musicalidade e com as quais pretendemos gravar um disco e preparar grandes concertos para surpreender a América Latina e depois sabe-se lá quem mais pois o limite é a estratosfera (até quando não sei!). Todos os concertos lotados de gente que queria ouvir música e de apaixonados pelo Brasil, a música, o futebol, as pessoas, tivemos uma resposta acima do que esperávamos tamanha a empolgação do público. No show do La Madrigueira, um local underground, com grafite nas paredes, com um público formado por estudantes, despojados, jovens, tatuados, com dreds no cabelo, rastafari, brincos pelo corpo e um intelecto altíssimo, tivemos a grata surpresa de ter entre os presentes o diretor Jorge Nhils Herrera, que estava aprontando um curta metragem, na verdade um documentário sobre Cuba e que nos procuraram certos de que aquela música que ouviram era perfeita para completar seu trabalho e assim já formando uma parceria que acreditamos derá outros frutos assim como a primeira das surpresas desta noite que deixei pro final por se tratar de uma história um pouco mais longa que começou na nossa segunda noite em Havana, ainda em um hotel (porque depois alugamos um apartamento) onde Amauri do grupo Cuentas Claras me abordou dizendo que eles iriam tocar no mesmo dia que a gente no La Madrigueira e que gostariam de tocar algo conosco num momento de transição entre os dois shows pois tocaríamos após o show deles e, vejam que inusitado para nós, eles são um grupo ácido pra caramba, de Hip-hop, caras muito inteligentes que falam de suas experiências no dia-a-dia dentro da sua sociedade com seus problemas e anseios e que puderam criar algo novo pra todos nós naquele momento, inclusive para o público que ovacionou nossa mistura sonora naquele palco e o que foi melhor: como nos demais encontros, uma parceria se formou e trabalhos novos surgirão atravéz de mais este encontro.

La Zorra y el Cuervo foi também um super concerto, uma casa de Jazz muito famosa, onde já passaram muitos nomes do Jazz no mundo e agora a Camerata Brasileira fazendo sua "Música com ouvidos no mundo" e recebendo em troca o carinho e o convite do quarteto de Alex numa jam de arrepiar pelo virtuosismo dos músicos dos dois países e a presença de um público variadíssimo de cubanos, canadenses, dominicanos, costariquenhos, brasileiros...

Le Select foi outra noite inusitada pois é um lugar onde as pessoas vão para dançar, salsa, congo, cassino, etc... E estávamos ali para presentear seus ouvidos e não seus corpos pois eu acredito que seja um pouco difícil dançar ao som da Camerata, mas que quiser é só se apresentar e começar! O palco a princípio meio estranho, umas pedras brancas, umas árvores e a nossa frente uma enorme pista de dança ao ar livre que depois durante o show da banda da casa, Cabildo del Son, fez até a gente bailar cassino!!! A resposta de todos foi tão positiva que fomos convidados para a festa de encerramento que aconteceria na noite seguinte, mas não só para dançar e sim para tocar com o Grupo Moncada que seria o responsável pela festa. Foi muito divertido tocar salsa com bandolim, cuíca, saxofone, nos juntando a um grupo enorme com dançarinos e tudo e que estava botando mais de 100 pessoas pra bailar desde o início da festa. Sensacional um povão bailando ao som de um solo frenético de bandolim e depois de saxofone, com direito a coreografia e tudo e com uma animação de dar inveja aos brasileiros mais foliões.

Por fim, fomos um dia até a praia de Guanabo, um mar verdinho e morno!!! Havana Velha com o contraste entre as construções antiguíssimas onde vivem 20, 30 famílias e os prédios históricos bem cuidados que abrigam museus, igrejas, embaixadas, etc... e prédios modernos como o da Puc no centro deste bairro lindo, com o mar de um dos lados e as ruas estreitas do outro. Em alguns momentos lembrava Olinda em Pernambuco, nas ruas mais estreitas longe dos grandes largos e praças que formam uma das partes mais bonitas que visitamos 90% do tempo a trabalho é verdade, mas sempre com muito prazer. E não é que encontramos numa destas manhãs um grupo de brasileiros fazendo turismo em Havana!? E por coincidência gaúchos, e mais ainda, de Porto Alegre tchê! Que loucura!!!!!

Enfim, estamos certos - e fiquem vocês também - que novidades virão, trabalhos, encontros e muitas surpresas depois dessa visita pois estamos falando pessoas simples, honestas e que veneram o Brasil, assim como a partir de agora agora, nós também passamos a conhecer e admirar o povo cubano na sua essência.

Rafael Ferrari
Bandolim 10 cordas

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